Carol

Catarina de Oliveira da Silva. Seu apelido Carol, uma amiga a apelidou assim, talvez a única amiga que conheça Carol de verdade. Carol, 36 anos, solteira, operadora de telemarketing, mora com os pais. Assim consta no seu perfil no orkut, vivi bisbilhotando o perfil dos outros, dos poucos conhecidos adicionados, ninguém manda recado para ela. Mesmo com 36 anos, Carol ainda não tem a sua vida em suas mãos, não a tem, por não sentir-se dona dela. Sempre deixa fios soltos, desconectados sem ligação, para mostrar-lhe a todo instante, o descontrole dela sobre si mesma.

Ás vezes, vem em sua mente, uma lembrança dela, menina pequena, com um brilho questionador nos seus olhos, fazia sempre uma pergunta ingênua e instigante ao mesmo tempo, "Quem sou eu?" ouvia sempre a mesma resposta "Sua descuidada", "Não serve para nada", "Igualzinha a seu pai".Carol, perdeu o brilho, em seus olhos sempre se via um tom turvo, no espelho,ela se via cheia de defeitos, como ela se esforçava para mudar, fazer tudo certo, mas ouvia "Não faz mais do que a sua obrigação, desanimada, desistiu dela.Hoje é um dia ensolarado de Fevereiro, o sol está a pino, queimando o seu rosto, seus cabelos encaracolados, castanhos esverdeados, compridos, estão balançando com o vento que está passando entre os pés de bambu. Ao longe, Carol escuta um grupo de crianças discutindo sobre a posse de uma bola. Ela respira fundo, tira o tênis velho sem marca e caminha descalça entre a grama. Neste domingo Carol, pela primeira vez, sente-se mais dona de si do que ontem. Olha para o céu azul, que enche e arde seus olhos de tão vivo que está. Começa a pensar diferente, em fazer algo a mais por ela. Como não deixar que o descontrole e o caos domine suas escolhas, Carol exita, sente medo, e diz consigo "Não vai dar certo"e a grande tristeza a envolve novamente. No mesmo instante, volta atrás, "Só vou arrumar algumas pontas pra ver o que acontece" e vai para casa feliz da vida, seu dia está completo.

Autora

Rafa Pina